março 17, 2008

FILMES: UM CAMINHO PARA O AUTOCONHECIMENTO

As pessoas vão ao cinema para relaxar, rir, curtir a adrenalina ou ver seus artistas preferidos. Outros curtem a estética: iluminação, cenários... Enfim, cada um tem seu foco. No entanto, todos, absolutamente todos, poderiam se conhecer melhor a partir de um filme. Vejamos alguns pontos que podem abrir esta porta para você.

Primeiro. Quando as pessoas saem do cinema, são impactadas diferentemente pelos diversos personagens. Observe-se.

O filme Antes de partir (The bucket list), que está nos cinemas, é um bom exemplo. Conta a história de dois homens, doentes terminais, que se encontram em um quarto de hospital. Cientes de que tem meses de vida, decidem fazer uma lista de coisas que desejariam concretizar antes de morrer. O mais rico propõe fazer a lista acontece mesmo, e se dispõe a financiar a aventura.

Terminado o filme, que é muito interessante, a grande maioria se sente afetada pelo personagem de Morgan Freeman (Carter Chambers), um mecânico, que queria ser professor de História e que viveu para a família, abrindo mão de seus sonhos: “Puxa, ele podia ter traído a esposa com um mulheraço e não o fez em nome de toda uma vida com ela... E ainda ensinou o outro."

O outro é o personagem de Jack Nicholson (Edward Cole), um sujeito muitooo ricooo, que vivia bem humorado, fazia piadas engraçadas e se divertia, planejando passar assim os últimos dias de sua vida de doente terminal. No entanto, ao conhecer Carter, ele acabará lembrando da filha, que havia se distanciado dele, e a procura, conhecendo a netinha, deixando sua vida de farra de lado.

A seleção de personagens que fazemos em um filme tem muito da projeção de nossas próprias crenças e convicções. Como a maioria de nós é criado sob a culpa do cristianismo ou, antes ainda, do judaísmo, muito facilmente adotamos o ponto de vista de Carter e olhamos de lado para aquele que não considera a família, e vive se divertindo. "O tal do Cole é frio, cara! Ele não tem moral, vive o carpe diem para valer." Será?

Tirando as crenças da parada o que vemos é que o tal do Cole é rico, bem sucedido, exerce o poder com maestria, não se deixando intimidar por quem está à sua volta, tem claro o que deseja, não quer morrer, quer usufruir a vida até o último minuto. Por que ele será tão errado assim? Dentro de que ótica? O Carter é frustrado, internamente odeia ter feito as escolhas necessárias para sustentar a família e não as que gostaria, vive em distanciamento afetivo claro de sua tão querida família e aceita, sem pestanejar, o convite para sair fora, pelo menos um pouco. Apenas na hora do adultério, a culpa bate pesado e ele volta correndo para a casa, não sem antes trazer o outro para a culpa também.

Esta é a verdade dos fatos. Quem vai para o céu? Como saber? Será que a decisão do Cole, dono do hospital, em fazer com que nenhum doente tivesse quarto privado no seu hospital, não deve ter salvo vidas por haver vagas disponíveis? Não se sabe mas poderia ser, não é? Será que, ao dar "um jeito" no marido da filha, que a surrava, não a deixou livre para ser feliz de forma saudável e criar a filha?

Segundo. Os personagens que mais o afetaram no filme tem muito a lhe ensinar sobre você mesmo.

Quando sair de um filme, faça um exame de seus sentimentos pelos personagens: quem você gostou, quem não gostou, quem você gostaria de esgoelar, quem fez você chorar ou pelo menos deixou a garganta entalada? Depois, pergunte para quem estiver junto, o que pensa dos personagens. Verá que as pessoas pensam e sentem diferente, pois na verdade projetam seus mundos internos de foram diversa sobre os personagens.

Para tirar a prova dos 9 e saber o que acontece, analise os personagens pela ótica da funcionalidade na vida: viveu bem? produziu diferença na vida de pessoas de forma ampla ou restrita a alguns? resolveu seus conflitos de forma adequada? contribuiu em algum sentido amplo? tomou decisões que levaram a mais funcionalidade na vida? atrapalhou a funcionalidade vital de outros? Deixe-me dar um exemplo. Lembram-se do personagem de Brad Pitt no filme Lendas da Paixão? É difícil não ceder à sedução do jeito selvagem e intenso do personagem de Brad Pitt, no entanto, todos os que dele se aproximam, enfrentam uma fatalidade. Ele é funcional para a vida? Sua existência leva a alguma contribuição positiva? Nem para a vida nem para os que estão em sua volta. Mas saímos do cinema com esta clareza? Aluguem o filme e se analisem. Verão como somos vítimas potenciais de pessoas de índole destruidora, com cara de santo, como é este personagem de Brad Pitt.

Bem, constatar não é tudo. O filme deve abrir para a análise interna e para uma revisão de nossas crenças. É uma impactante ferramenta a ser usada. Aproveite.

Este post participa da promoção Blogagem inédita do InterneyBlogs.

2 comentários:

Carlos Henrique Leda disse...

Eu uso não somente filmes, mas qualquer coisa para reanalisar minhas crenças, valores, posturas, atitudes e ações. Mesmo um filme onde tenha violência gratuita, corrupção, ao invés de ver isso e achar legal, eu vejo como sendo algo muito ruim, e procuro fazer justamente o oposto.
Claro que há o momento de lazer, mas não se pode esquecer de refletir, buscando um aprimoramento humano, sempre....

Nadiva Olivier disse...

Uma coisa importante, Carlos, é perceber que o filme nos afeta, mesmo que acreditemos que estamos fazendo o oposto ou não validando atitudes ou personagens que consideramos errados ou algo assim. Quando assistimos um filme que vai contra a nossa consciência, saímos mal do filme. E às vezes nossa pena de algum personagem extrapola o que acreditemos ser este sentimento. Por isso é importante conhecer o código interno ao filme e ver como ele se atualiza em nosso inconsciente. Coração Valente por exemplo tem um heroi que perde a vida por um vínculo com uma mulher que morreu. Seu papel na história nao foi relevante, se você pesquisar. E, no filme, ele protagoniza uma pessoa que entrega a vida, sem sentido. O que você acha disso?